30.12.12

Antes ler depois do que ficar só com o filme

Primeiro foi o On The Road, depois o Anna Karenina. Até ver, não me lembro de outro livro que tenha lido depois de ver o filme. Em boa verdade, só li (dezenas de vezes) as primeiras frases do A. Karenina, mas essa tragédia vai acabar não tarda nada - mais ou menos, vá, que eu sou pessoa de ler demoradamente e 700 e tal páginas não se virarão de uma assentada.
Hoje fui ver o filme com a mamacita e a única coisa que me fez sair da história foi a coceira infernal por causa da picada dos mosquitos que muito atraídos se sentem por esta doçura de pessoa que sou eu (rezo para não ser atacada por um com dengue!). Fora isso, a-do-rei. Bom, é certo que sou suspeita porque gosto muito de filmes de época e simpatizo com os russos. Mas nada disso importou, foi a própria da Karenina que me deixou caída aos seus pés, personagem portento, cheia de garra e grande dose de loucura. Se tivesse vivido por alturas de mil oitocentos e tal tinha gostado de ser como ela. Provavelmente ainda hoje gostava de ser como ela. E por isso vou agarrar-me agora à edição velhinha que a minha mãe tem aqui em casa (e já leu três vezes, fez questão de lembrar, e enxovalhar, volta e meia) e tentar devorá-la toda antes de partir para a urbe.



Mistérios da vida #1

A quantidade de pessoas que escrevem "há" sem h (e mais aquelas que ainda lhes dão um acento grave). É assim tão difícil?

19.12.12

                                       Adrien Brody em "O Pianista" de Roman Polanski

Ter dias de férias para passar o Natal em casa, com a família e amigos, sempre foi inquestionável. Há anos que em Junho ou Julho já tenho as férias religiosamente marcadas na empresa (agora, como freelancer, é tudo mais fácil) e a viagem planeada e paga para evitar gastos maiores nas reservas de avião em cima do joelho. Natal que não fosse na ilha, não seria.
A casa da minha mãe, o meu quarto de adolescente, intocável, ainda com as cortinas aos quadrados que tanto prazer me deram escolher. Na minha secretária, o computador velho onde fiz as minhas primeiras incursões na internet (o mirc e a rdis!). A grande árvore de Natal com anjinhos dourados e as bolas mais bonitas de sempre. O centro da mesa com a vela do pai natal gordo e olhos gozados. O piano preto pesado e a banqueta cor de vinho, acordes próprios da época e um bando de esganiçados a esgravatar canções.
Este Dezembro, surpreendentemente, trago um misto de emoções. Na sexta às 7h45 estarei a  descolar de Lisboa e, ao contrário de sempre, tenho um nó cego na garganta. Quero ir a casa, sim, mas gostava que ele viesse comigo. Vivo em Lisboa há mais de dez anos, mas a minha casa sempre foi a ilha. Desde as mortes do meu pai e do meu tio que o Natal é triste. Há catorze anos que o Dezembro é preto. As vozes são desmaiadas e as teclas negras e brancas do piano não se tocam sozinhas. Mas saudoso, o Natal só o é em casa.
Ele, o A., trabalha a 24 e a 26. Não pode ir comigo, nem pode ir ter com os pais. O Natal dele vai ser triste, desterrado, a praticar no piano que comprou há três meses. O nó treme-me na garganta e pergunta ao meu peito se agora tenho dois lugares chamados casa.

17.12.12

ASAE ao Marquês já!

Volta e meia vou almoçar com o meu amorzão ao Balcão do Marquês. Hoje não foi o dia, e ainda bem. O restaurante fica próximo do trabalho dele, é prático, e a comida é boa. Ou era. Hoje, contou-me ele, os colegas foram lá almoçar, como já fazem há meses e anos. Bacalhau Delicioso ou coisa que o valha. A delícia? Nada mais, nada menos do que uma barata cozinhada no meio do prato. Ora então, recapitulemos: o grupo entra no restaurante habitual; esfalfados de fome, pedem bacalhau; comem, comem, comem, sabe-lhes pela vida, e quando estão prestes a acabar a refeição um dos gulosos encontra o bicho nos últimos bocados de comida. Uma barata? No prato? Há coisa mais asquerosa que esta? Mas meus bons amigos, a história não acaba aqui, nada disso. Como era de esperar, o grupo habitué do Balcão do Marquês reclamou. Resposta da gerência: "Desculpe, os cafés ficam por conta da casa". Isto é real? Se já estava com uma volta no estômago, agora sinto foguetes. Comeram bacalhau cozinhado com barata e pagaram o prato? Ofereceram-lhes café em troca? Bom, eu não sei em que circunstâncias tudo aconteceu, mas parece-me que até nas coisas pequenas andamos todos perdidos: ou peitos muito inchados ou orelhas demasiado baixas - e o mais preocupante é, na maioria das vezes, os papéis estarem trocados.

Bichos

Este ano, assim como no último, os enfeites da árvore de Natal servem de brinquedos para as miúdas cá de casa. As gatas, digo. É impossível ter o pinheiro arranjado mais do que uma hora. As bolas, rodolfos e pais natal rebolam pela casa inteira, e é dar com eles dentro da banheira, debaixo do sofá ou até na sua própria casa de banho. Estas gatas são umas chafurdas, é verdade, gostam de esconder brinquedos dentro da liteira.Valha-me que depois da porcaria, troquem as decorações da árvore por material de primeira.


14.12.12

Mistérios da vida

A dor para fazer xixi aumentar feita bicha histérica no exacto momento em que metemos a chave na porta para entrar em casa.

Bocejo

E eis que o dia de trabalho chega ao fim. Ultimamente tem sido noite dentro. Mal posso esperar por colher os frutos, mas antes as duas semanas de férias que me esperam. Ahhh! Vida boa a chegar dentro de 7 dias.

5.12.12

Pela Estrada Fora

Adorei. Sem tirar nem pôr. Mesmo com a zombie da Kristen Stewart que continua sem me encher as medidas, mas até se safou bem. Eu nem gosto de louros, mas o Garrett Hedlund (faz de Dean Moriarty) é um pedaço de mau caminho, com a voz mais viril do mundo, e sim, também faz um papelão. O Sam Riley (Sal Paradise) é aquele fofinho que já conhecemos e gostei muito dele a fazer de bom rebelde neste filme. O Walter Salles, realizador, continua com a delícia de trabalho que é só dele, planos magníficos e luz ideal, não perdendo o traço que mostrou em "Central do Brasil" e "Diários de Che Guevara". O S.Jorge estava a abarrotar, prevendo-se que os próximos dias de festival da Revista Ler sejam de sala cheia, que é coisa que tem faltado neste país nos últimos tempos.
Como o "On The Road" abriu o festival dos 25 anos da Ler, a Bertrand também andava por lá a vender livrinhos e o que encontrei eu? Nada mais, nada menos que "Pela Estrada Fora", 378 - mais coisa, menos coisa - páginas sobre aventuras da beat generation em português limpinho. Claro que trouxe um comigo que planeio ler nas férias de Natal. Já espreitei, evidentemente, e parece-me que vou gostar muito da escrita do Kerouac.


                                Garrett Hedlund em On the Road

4.12.12

On The Road

Hoje é dia de ante-estreia do On the Road e estou entusiasmada. Embora me apeteça muito, ainda não li o livro. Há anos que não consigo encontrar a versão portuguesa. Sempre que me lembro de a pedir numa livraria "acabou dois dias antes". No ano passado, em Paris, entrei na Shakespeare & Company (a livraria mais cozy que conheci até hoje), e mal os meus olhos bateram na edição inglesa agarrei-me a ela e não a larguei mais. Problema? Não consigo ler aquele livro em inglês, tenho de espreitar o dicionário vezes sem conta, e é difícil para burro (ou será o meu inglês que anda pelas horas da morte?).
Não gosto de ver filmes antes de ler os livros, mas hoje vou dar-me a esse pecado, na esperança de encontrar um dia a edição portuguesa - se alguém souber, que me avise! A Kristen Dunst, que amo de paixão, entra no filme. Só não  entendo muito bem porque escolheram a outra Kristen, a Stewart, com aquele ar de mosca morta, para personagem principal. Pode pode ser que a coisa resulte e até passe a gostar um bocadinho dela. A ver vamos.


3.12.12

Le Chef

Fui à ante-estreia, na terça passada, e gostei muito. É francês, sobre cozinha, e tem o Jean Reno. Ge-ni-al. Eu, que não sou de riso fácil no cinema, saí de lá com os maxilares em riste. Antes do filme, houve um showcooking de cozinha molecular com dois chefs com nome supimpa, mas que agora não me lembro. Não consegui provar nada porque tinha tudo um ar muito nhec x químico, vapores a vaguear na sala, explosão iminente, qual laboratório montado nas Amoreiras - demasiado forçado e minimalista para o meu gosto. Eu gosto é de peixe e carne verdadeiros, assim como de pessoas reais como companhia e não de malta do croquete, wanna be desta vida. Por isso saí do enfadonho cocktail, dei um giro pelo shopping, retribuí dois telefonemas a amigos para matar saudades e dar umas gargalhadas, fumei um cigarro e, à hora marcada, já estava sentada no cinema. Um empregado trouxe pipocas de caril e, parecendo mais verdadeiras, comi. Estavam boas, mas suspeito que o milho fossem moelas, que é coisa que não consigo comer e me dá a volta ao estômago. Valeu o filme para esquecer o infortúnio. Ide ver e passai um bom momento. Estreia quinta-feira.


Domingo

4 máquinas de roupa lavadas e estendidas, 2 de louça, cozinha montada e pó por tudo quanto é sítio aspirado. Mais ou menos, vá. As cortinas da sala também precisaram de banho e chegam na quarta-feira, juntamente com a minha querida d. Adelina, fada de lares, que já me ajuda nas lides domésticas há uns anos, e nem quero pensar no reboliço desta casa se ela me falta algum dia.
Para relaxar do pandemónio que se instalou nas últimas semanas, um copo de tinto, o cabrão do cigarro que me vai saber como há muito não sabia, e dois dedos do livro novo que me calhou nos anos (sim, foram na semana passada e comemorados entre obras e gargalhadas) e que estou a gostar tanto como previa. Depois, cama quentinha, sono reparador, e acordar com a casa composta. Sem pratos e escorredores de louça na sala, sem tupperwares e livros de cozinha no chão do quarto. O que eu esperei por este dia.