19.12.12

                                       Adrien Brody em "O Pianista" de Roman Polanski

Ter dias de férias para passar o Natal em casa, com a família e amigos, sempre foi inquestionável. Há anos que em Junho ou Julho já tenho as férias religiosamente marcadas na empresa (agora, como freelancer, é tudo mais fácil) e a viagem planeada e paga para evitar gastos maiores nas reservas de avião em cima do joelho. Natal que não fosse na ilha, não seria.
A casa da minha mãe, o meu quarto de adolescente, intocável, ainda com as cortinas aos quadrados que tanto prazer me deram escolher. Na minha secretária, o computador velho onde fiz as minhas primeiras incursões na internet (o mirc e a rdis!). A grande árvore de Natal com anjinhos dourados e as bolas mais bonitas de sempre. O centro da mesa com a vela do pai natal gordo e olhos gozados. O piano preto pesado e a banqueta cor de vinho, acordes próprios da época e um bando de esganiçados a esgravatar canções.
Este Dezembro, surpreendentemente, trago um misto de emoções. Na sexta às 7h45 estarei a  descolar de Lisboa e, ao contrário de sempre, tenho um nó cego na garganta. Quero ir a casa, sim, mas gostava que ele viesse comigo. Vivo em Lisboa há mais de dez anos, mas a minha casa sempre foi a ilha. Desde as mortes do meu pai e do meu tio que o Natal é triste. Há catorze anos que o Dezembro é preto. As vozes são desmaiadas e as teclas negras e brancas do piano não se tocam sozinhas. Mas saudoso, o Natal só o é em casa.
Ele, o A., trabalha a 24 e a 26. Não pode ir comigo, nem pode ir ter com os pais. O Natal dele vai ser triste, desterrado, a praticar no piano que comprou há três meses. O nó treme-me na garganta e pergunta ao meu peito se agora tenho dois lugares chamados casa.

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