30.1.13

Táxi do amor próprio

Orlando Bloom
Só as comprometidas não deram por ele. As mulheres, vestidos da moda e maquilhagem irrepreensível, rodopiavam à sua volta como necrófagos a vislumbrar um osso carnudo. Faziam-se notar, tentavam arrancar-lhe um pedaço, muitas piadas moles e risos estridentes. Os copos são tramados para as mulheres carentes e perdidas. Ele sorria gentilmente, atirava uma ou outra graça, e rapidamente recuava para dar atenção a um amigo bêbado e pouco histérico. Era alto, cabelo escuro, e a juventude transpirava nos traços finos à roda da boca. Não ligou a nenhuma, nem à beleza que traziam. Dançava sem grande aparato e ria-se muito para toda a gente. Era calmo na confusão e tinha uma segurança gorda nos olhos muito grandes e muito castanhos. Não gostava do fumo dos cigarros e volta e meia ia à rua respirar o fresco. Era nessa altura que elas diziam estar fora de si, como ele era lindo e atlético,  e o destino trágico dele não lhes ligar nenhuma. Mais tarde, ele disse ao meu amigo que era bom ser desejado, mas melhor era ser descoberto além dos braços fortes e costas largas, dentro dos olhos.  E que isso, as mulheres perdidas nunca queriam. Depois foi embora, meteu-se no táxi creme e, até chegar a casa, conversou com o motorista barrigudo e de bigode. As mulheres perguntaram de seguida quem era o outro amigo que tinha ficado para tomar o pequeno-almoço.



1 comentário:

  1. Foste nomeada para um prémio no meu blog :)

    Fizeram-me o mesmo, achei a ideia gira e aderi!

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